O Rio de Janeiro sempre foi palco de diversidade e resistência. Não é à toa que várias figuras LGBTQIA+ históricas são cariocas ou fluminenses. Elas ajudaram a abrir caminho na luta por direitos e visibilidade, brilhando nos palcos, palanques e eventos, fazendo com que a cidade e o estado se tornassem ainda mais inclusivos.
Essas pessoas, direta ou indiretamente, contribuíram para que movimentos ativistas levantassem a bandeira da igualdade, marcando a história com sua coragem e talento.
Por isso, trouxemos aqui pessoas que fizeram e fazem a diferença nas lutas e conquistas da história da comunidade LGBTQIAPN+ no Rio de Janeiro.
Madame Satã
João Francisco dos Santos, mais conhecido como Madame Satã, nasceu em 1900 e foi uma das figuras mais icônicas e controversas do Rio de Janeiro. Negro, homossexual, capoeirista e transformista, ele viveu no coração da boemia carioca, principalmente na Lapa, onde ganhou fama por sua personalidade vibrante e incontrolável.
Sua vida foi marcada por problemas com a polícia, muitas prisões e uma resistência constante contra o racismo e a homofobia de uma sociedade que o marginalizava. Apesar das dificuldades, Madame Satã construiu uma reputação lendária, sendo tanto temido quanto admirado.
Ele se apresentava como artista transformista, desafiando os padrões de gênero da época, e também era conhecido por sua habilidade na capoeira, que o ajudava em brigas (que eram frequentes).
Sua figura carismática e rebelde virou símbolo da resistência marginal e LGBTQIA+, e ganhou até um filme biográfico, onde ele representa uma luta por existência e liberdade em um cenário de opressão. Até hoje, Madame Satã é lembrado como um ícone da cultura popular e da história queer no Brasil.
Marielle Franco
Nascida no Rio de Janeiro em 1979, Marielle Franco foi uma socióloga, feminista, ativista de direitos humanos e política que marcou a história do Brasil. Negra, bissexual e vinda da favela da Maré, ela desafiou todas as barreiras impostas a mulheres como ela.
Eleita como vereadora do Rio de Janeiro em 2016, Marielle se destacou pela defesa das causas LGBTQIA+, das mulheres negras e da população periférica. Sua luta era por justiça social, pelo fim da violência policial nas favelas e pela garantia de direitos a quem mais precisava.
Infelizmente, Marielle foi brutalmente assassinada em 2018, um crime que chocou o país e gerou uma onda de protestos e solidariedade. Seu legado, no entanto, segue vivo.
Marielle se tornou símbolo de resistência e luta contra as opressões, inspirando novos movimentos e gerações a continuarem seu trabalho por igualdade, justiça e visibilidade para as minorias. A frase “Marielle presente” ecoa até hoje, lembrando da importância da sua voz na luta por um mundo mais justo.
Rogéria
Rogéria, nascida em 1943, foi uma das artistas trans mais amadas e respeitadas do Brasil. Cria da cidade de Cantagalo, começou sua carreira como maquiadora no Teatro República, mas não demorou muito para brilhar sob os holofotes como vedete, atriz e cantora.
Com carisma, talento e uma presença marcante, Rogéria quebrou barreiras ao conquistar o público, tanto nos palcos quanto na televisão, em uma época em que o preconceito era ainda mais forte contra pessoas trans.
Ela se referia a si mesma como “o travesti da família brasileira”, mostrando sua habilidade única de se conectar com todos os públicos. Rogéria não só brilhou como artista, mas também foi uma voz importante para a visibilidade trans, sempre enfrentando o preconceito com graça e humor.
Sua carreira e luta por respeito abriram caminho para muitas outras pessoas LGBTQIA+ na mídia e na cultura brasileira. Rogéria deixou uma memória poderosa, sendo lembrada como uma verdadeira diva, cheia de glamour e força.
Paulo Gustavo
Paulo Gustavo, nascido em 1978 em Niterói (RJ), foi um dos maiores comediantes do Brasil e uma figura importantíssima para a comunidade LGBTQIA+. Gay assumido, ele sempre trouxe a diversidade para suas obras com muito humor e afeto, conquistando o coração do público e de todos ao seu redor.
Seu maior sucesso, a personagem Dona Hermínia, do filme e da obra de teatro Minha Mãe é uma Peça, inspirada em sua própria mãe, virou um fenômeno do cinema brasileiro, quebrando recordes de bilheteria.
Além do talento e do timing cômico impecável, Paulo Gustavo foi um símbolo de representatividade. Ele usava sua plataforma para falar sobre o orgulho de ser quem era, a importância do amor e da família, e também para defender os direitos LGBTQIA+.
Seu casamento com o médico Thales Bretas e o nascimento dos filhos gêmeos por meio de barriga de aluguel mostraram uma nova visão de família que inspirou muita gente. Paulo faleceu tragicamente em 2021, devido à COVID-19, mas deixou uma história inspiradora de alegria, arte e luta pela diversidade.
Cássia Eller
Cássia Eller foi uma das vozes mais potentes e autênticas da música brasileira. Nascida no Rio de Janeiro, em 1962, ela possuía um estilo único, que misturava rock, MPB e blues, conquistando uma legião de fãs.
Cássia tornou-se um ícone da música nos anos 90 e início dos 2000. Dona de uma presença de palco intensa e inconfundível, a artista desafiava rótulos, tanto musicalmente quanto em sua vida pessoal.
Assumidamente bissexual, Cássia viveu uma relação estável com Maria Eugênia, com quem criou seu filho Chicão. Ela nunca fez questão de esconder sua sexualidade, o que a tornou uma referência importante para a comunidade LGBTQIA+, em uma época em que poucas figuras públicas falavam abertamente sobre isso.
Sua vida foi uma celebração da liberdade e da autenticidade, e sua contribuição para o mundo musical permanece até hoje, com canções como Malandragem e Por Enquanto sendo verdadeiros hinos.
Cazuza
Cazuza, ou Agenor de Miranda Araújo Neto, nasceu no Rio de Janeiro e foi um dos maiores nomes do rock brasileiro e da música popular nos anos 80. O cantor foi vocalista da banda Barão Vermelho e, mais tarde, fez muito sucesso em uma bem-sucedida carreira solo.
Cazuza era conhecido por suas letras poéticas, intensas e cheias de crítica social, além de sua voz rouca e inconfundível. Com clássicos como Exagerado, Codinome Beija-Flor e O Tempo Não Para, ele marcou uma geração.
Assumidamente bissexual, Cazuza desafiou tabus em uma época em que falar abertamente sobre sexualidade era incomum no Brasil. Sua vida era vivida com intensidade, e ele nunca se esquivou de ser autêntico.
Em 1989, ele revelou ser soropositivo para o HIV, um gesto corajoso que trouxe visibilidade à causa em um momento em que o preconceito em relação à AIDS era enorme. Cazuza faleceu em 1990, mas será para sempre uma referência para a comunidade LGBTQIAPN+, para a arte e para a música.
Já conhecia esses nomes?
Essas figuras foram verdadeiros ícones de suas épocas e deixaram uma marca inesquecível em nossas histórias com suas vidas, arte e luta pela diversidade e inclusão das pessoas LGBTQIAPN+. Mas, mais do que só admirar, é necessário que a gente também faça nossa parte, engajando-se nas causas e defendendo a comunidade!